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Covid-19: Médicos brasileiros solidários nas redes

Missão Covid é o nome de um grupo de médicos voluntários que participam da missão altruísta de levar orientação virtual gratuita à população brasileira. A iniciativa nasceu da angústia de um jovem oncologista que estava em quarentena e que, junto com um amigo cardiologista e pessoal de tecnologia da informação (TI), se propôs a adaptar para o atendimento virtual uma plataforma de telemedicina que já estava funcionando em vários hospitais.

No primeiro dia, em um projeto-piloto por vídeochamada de Instagram, foram 35 orientações de pessoas entre 1 e 81 anos, de Ijuí, no Rio Grande do Sul, a Belém, no Pará.

“Descobrimos que a grande maioria dos pacientes teria ido a uma unidade de saúde se não fosse pelos médicos que prestaram atendimento voluntariamente. Resolvemos 100% das dúvidas, e os pacientes se sentiram confortáveis”, compartilharam em um grupo no Telegram (um aplicativo de mensagens instantâneas), no qual os médicos voluntários organizam a escala de plantões e ao qual o Medscape teve acesso.

No segundo dia foram 156 atendimentos. “É como se fosse um Uber, oferecemos a plataforma e os médicos que se voluntariam, a usam”, explicou o Dr. Rafael Brandão, oncologista clínico e fundador do grupo junto com o cardiologista Dr. Leandro Rubio.

“A ideia é que seja unicamente orientação, não damos conduta”, destacou o oncologista.

A escala dos plantões virtuais comporta até 30 nomes. Na central de vagas, um voluntário de plantão registra os pedidos da população feitos via Instagram, então o médico escalado para responder escolhe a ferramenta: Zoom, Skype ou outra, e o paciente recebe o link. 

Convocatória

As chamadas aos médicos são feitas por vídeos divulgados no Instagram e amplificadas por outras redes sociais. Nas primeiras 36 horas a Missão Covid já tinha 302 médicos cadastrados.

Todas as especialidades médicas são bem-vindas, havendo apenas uma exigência para participar do projeto: o CRM ativo.

“Não tem sênior ou júnior, todo mundo é voluntario, tudo mundo é igual”, disse o Dr. Rafael.

 A responsabilidade é toda do voluntário, a ferramenta não tem previsto ter canal de reclamação, nem de denúncia e nem de bloqueio.

“É um cenário de guerra, se a gente se preparar demais vamos perder o timing”, justificou.

Urgência não quer dizer falta de planejamento ou organização. Cada médico da Missão Covid recebe um guia de atendimento, no qual é indicada desde a forma de apresentação até a necessidade de o médico utilizar um fone de ouvido durante os atendimentos, porque as informações dos pacientes são confidenciais. No guia também consta um esquema com o fluxo de teleatendimento de atenção primária, a informação atualizada que ajuda no diagnóstico, bem como orientações a repassar quando é necessário encaminhar o paciente a uma unidade de saúde.

Os médicos também são solicitados a preencher um formulário de atendimento de cada paciente com informações básicas como nome, idade, cidade e tempo de atendimento. E, ao final do atendimento, eles devem responder a uma única pergunta: se acham que conseguiram evitar uma ida desnecessária ao hospital.

Para a população a experiência é, em parte, como ir a um pronto atendimento presencialmente. O paciente sabe o nome e o CRM do médico, mas não pode escolher, vai ser atendido por quem estiver lá.

De acordo com a avaliação dos primeiros dias, a maioria das pessoas que se consultou na Missão Covid só queria saber se precisava ir ao pronto-socorro ou não.

“E, para triagem, orientar as queixas simples, 99% das consultas são dúvidas”, disse o Dr. Rafael, que acredita que esse serviço gratuito é importante, principalmente para as pessoas que não têm plano ou seguro de saúde ou acesso à rede privada. Os organizadores recomendam que os médicos considerem que a tecnologia pode não ser o forte da população atendida, “sejamos pacientes”.

A Missão Covid é apenas um dos projetos solidários nascidos da atual necessidade da população de ter informação personalizada sobre a Covid-19 (sigla do inglês, Coronavirus Disease 2019) e que aproveita o reconhecimento da possibilidade de utilização da telemedicina pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e a posterior liberação da prática da telemedicina – em caráter excepcional e temporário – pelo Ministério da Saúde.

Diariamente, os médicos do grupo @ficaemcasa.euteajudo ficam de plantão no Instagram das 8:00 às 23:59. A ideia surgiu após uma conversa informal entre quatro médicos e uma especialista em marketing e mídias sociais. Em seguida eles criaram uma conta no Instagram e elaboraram um protocolo de atendimento.

“Temos um pré-cadastro de mais de 30 profissionais do mundo todo”, disse ao Medscape o Dr. Daniel Petkov, médico especialista em medicina do trabalho, de Florianópolis.

“Decidimos fazer uma escala e iniciar a divulgação e os atendimentos pelo Instagram mesmo. Depois de avaliarmos a demanda e a dinâmica dos primeiros atendimentos, vamos traçar um planejamento para o futuro, que a princípio, inclui expandir os atendimentos para outras plataformas que tenham suporte e infraestrutura de maior capacidade, com a inclusão de mais colegas médicos e de profissionais de outras áreas para nos ajudar com a produção de conteúdo e o relacionamento com os seguidores/usuários.”

A ideia surgiu devido à pandemia de Covid-19, mas “já estamos pensando em manter o trabalho também após esse período”, concluiu.

Na Espanha existe a iniciativa @MedicosSolidariosOnline, que tem algumas diferenças das brasileiras mencionadas neste artigo. Além de médicos há outros profissionais de saúde, como enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, entre outros. Os profissionais são listados por grupos de especialidades e o público tem acesso ao nome, registro profissional e e-mail para consulta direta com o voluntário.

Voo solitário

O Dr. Eduardo Finger é clínico geral, imunologista e coordenador do Laboratório de Pesquisa Experimental do Hospital Oswaldo Cruz. Desde quando começou a pandemia, ele responde dúvidas pelo telefone e pelo WhatsApp. O trabalho solidário do médico de São Paulo não começou como uma ação planejada, mas como resposta às ligações de amigos, amigos de amigos, familiares de pessoas fora do país.

“Acho que, nas últimas semanas, eu falei com mais pessoas que não conheço do que na minha vida inteira. Daqui a pouco vou ter a minha própria torre de celular, porque estou congestionando a vizinhança inteira”.

O Dr. Eduardo destacou: “Não importa se são seus pacientes ou não. As pessoas fazem bobagem quando estão assustadas e eu, como médico, tenho o papel de servir de baliza e ajudar os outros a superarem isso de uma maneira menos dolorosa; porque o medo dói.”

No caso da Covid-19, na qual a falta de ar é um dos sintomas que caracteriza os casos graves, é frequente que as pessoas desenvolvam este sintoma por um quadro emocional em decorrência de ansiedade ou pânico, sem saber como diferenciar os tipos de dificuldade respiratória.

Como médico, o Dr. Eduardo reconhece que não se sente 100% confortável de aconselhar uma pessoa que não conhece e não pode examinar, “mas alguma coisa tem de ser feita, e a gente se adapta”. Ele acredita que “da mesma forma que a tecnologia ajudou a criar esse clima de ansiedade que estamos vivendo, ela me ajuda a fazer o que eu posso para mitigar isso”.

Teleorientação não é teleconsulta

Estas iniciativas são possíveis porque o CFM liberou a teleorientação para que os profissionais da medicina realizem a orientação e o encaminhamento de pacientes em isolamento à distância.

O médico neurologista Dr. Jefferson Fernandes é uma referência no Brasil quando se fala em telemedicina. Ele foi consultado pelo Medscape como presidente do Conselho Curador do Global Summit Telemedicine & Digital Health, evento criado pela Associação Paulista de Medicina (APM). Segundo ele, o Ministério da Saúde ampliou as possibilidades de diferentes modalidades da telemedicina com relação à proposta do CFM que tinha sido publicada anteriormente, mas “teleorientação é um termo vago”, ponderou.

“Como não há uma definição clara do que significa teleorientação, e me baseando em uma resolução prévia do CFM do ano passado, que foi revogada, e de outras publicações do CFM, eu interpreto que teleorientação é simplesmente orientar o paciente, sem fazer diagnóstico ou indicar terapêutica. É, portanto, um processo bastante limitado.”

A teleconsulta, no entanto, implica a utilização de tecnologias da informação e comunicação que protejam a segurança e privacidade do paciente. E, além disso, todas as informações precisam ser registradas.

“O Instagram ou qualquer outra rede social, como WhatsApp ou Skype, não tem isso como prerrogativa.

 

Meu entendimento é que, para se fazer teleconsulta teriam que se utilizar plataformas específicas, que ofereçam segurança, privacidade e que permitam que o médico registre a consulta como se fosse uma consulta presencial”, concluiu.

Fonte:  portugues.medscape.com/verartigo/6504611#vp_1

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